fonte: Extra
A estudante de Direito Luciene Baessa, de 30 anos, saía da sala de cirurgia no Hospital Federal de Bonsucesso, após o seu segundo transplante de rim — o primeiro, aos 14 anos, não havia dado certo — quando, junto à família, soube que o órgão não estava funcionando bem, e teria que voltar a fazer hemodiálise. Ela tinha 21 anos e chorou abraçada à médica que cuidou dela dos 12 aos 18 anos. Atendendo ao pedido da jovem, a nefrologista pediatra Regina Helena Novaes, de 55 anos, voltou a acompanhá-la. Após três dias sendo tratada com remédios, abraços e conversas, Luciene recebeu a notícia de que o rim começara a funcionar. Há oito anos, ela está livre das três sessões semanais de hemodiálise.
— O carinho da doutora Regina fez milagres. Nos momentos mais difíceis, ela sempre tinha um abraço, um sorriso e me dizia que iríamos lutar juntas até tudo ficar bem. E era isso que acontecia. Durante os anos da minha infância em que fiz hemodiálise, ela fazia tudo ficar mais leve. A sala cheia de máquinas parecia uma sala de casa, com conversas, brincadeiras, jogos, festas de aniversário. Levava a mim e as outras crianças da hemodiálise para passear. Minha mãe diz que ela é minha segunda mãe. Nunca poderei agradecer tudo o que a doutora Regina fez e ainda faz por mim — diz Luciene, ao contar sua história para o EXTRA, que lança neste domingo a premiação “Obrigado, doutor”. — Deus não poderia ter me dado uma oportunidade melhor para agradecer a ela por ter sido a minha médica por todos esses anos.
Se você também tem um médico que, além de cuidar da sua saúde, se importa com você, com seus sonhos e sua qualidade de vida, envie sua história para o EXTRA, por meio do site da premiação (http:http://extra2.globo.com/promocoes/obrigado-doutor/). Os casos mais marcantes serão contados pelo jornal. Um júri formado por cinco especialistas vai escolher três histórias mais emocionantes para receberem o prêmio “Obrigado, doutor”. E quem vai entregar o troféu ao médico é o seu paciente. Até porque agradecer faz bem.
Desde a primeira consulta, passaram-se 18 anos, dois transplantes, um câncer de tireoide e uma complicação grave após uma biópsia no nariz.
— A doutora Regina acompanhou meu tratamento contra o câncer, procurava os outros médicos para saber dos exames. Quando precisei fazer uma biópsia nasal, tive uma hemorragia grave por dez dias. Fiquei internada e tive edema agudo no pulmão. Ela estava de férias, viajando. No dia em que ela voltou, eu estava tendo uma crise, fiquei toda torta, não conseguia enxergar, mas ouvi a voz dela dizendo que tudo ficaria bem. Naquele dia, comecei a melhorar. E é graças a ela que hoje estou aqui, realizando meus sonhos.
Na semana passada, no entanto, o cordão umbilical foi cortado. Luciene teve sua primeira consulta com o nefrologista de adultos.
— Não foi como a doutora Regina, mas me pareceu um bom médico — disse Luciene, tentando esconder o que o corpo não conseguiu.
Três dias após saber que mudaria de médico, a jovem foi internada com vômitos e diarreia. Mais uma vez, Regina estava lá. E assim permanece nas lembranças do melhor bolo de aniversário, no presente mais especial, no passeio mais divertido.
— Sei que sempre poderei contar com ela. A doutora Regina passava mais tempo aqui, com os filhos do coração, do que com os filhos dela — disse Luciene, surpreendendo sua médica com uma lembrança da infância: — Em uma das minhas internações, comecei a ter calafrios, e a cama balançava de tanto que eu tremia. Ela me abraçou com força. São coisas que não esqueço.
As crianças que têm problemas renais crônicos têm uma dieta muito restrita, sem sal. Até a quantidade de água é controlada. Não é à toa que os aniversários eram datas aguardadas com grande expectativa.
— Quando fazíamos aniversário, a doutora Regina fazia festa e trazia aquilo que o aniversariante mais amava. Uma vez, ela contratou uma festa do Mc Donald’s, com personagens e tudo. E conseguiu que fizessem tudo sem sal. No meu aniversário, tinha salgadinho, que eu amo! Na Páscoa, trazia chocolate. Era uma alegria! Comíamos enquanto fazíamos a hemodiálise – contou Luciene.
A alegria dos passeios organizados pela médica também estão na memória da paciente:
— Ela jogava futebol e nadava com a gente. Havia uma menina que tinha sido abandonada no hospital pela família. Ela tinha problemas graves de saúde, que deixava suas pernas muito inchadas. Por isso, não conseguia andar. Mas como ela adorava passear, a doutora Regina e outras pessoas da equipe não a deixavam para trás. Eu me lembro da doutora Regina passeando com essa menina na cadeira de rodas de um lado para o outro, colocando-a sobre uma toalha no gramado. Nós víamos o carinho que ela tinha por todos nós.
A médica se surpreende com a lembrança da paciente:
— Jamais imaginei que as crianças ficassem me observando, enquanto brincavam. Não é um trabalho. É um prazer, porque faço o que gosto.
“CARTA PARA A DOUTORA REGINA”
Rio de Janeiro, 11 de setembro de 2014
Dra. Regina Helena,
Existe um ditado popular que diz que “Deus escreve certo em linhas tortas” e eu o aceito como verdade pra minha vida. Pois Ele já sabia que, em algum momento, a sra. optaria pela profissão de médica e que, em um outro momento, uma criança de apenas 12 anos de idade iria depender dos seus conhecimentos para pelo menos tentar continuar levando uma vida digna como a que tinha antes de ficar doente, e que esse conhecimento somado a uma série de fatores muito importantes fariam toda a diferença na vida desta criança, fazendo-a acreditar que não importava o que acontecesse, ou por quanto tempo teria que lutar em meio a uma dificuldade, no final tudo ficaria bem.
Esta criança era eu! Com 12 anos de idade, sem entender direito o que estava acontecendo, entrei pela primeira vez em seu consultório, estava tudo muito confuso e muito complicado, pois a expectativa era que, algum tempo depois, tudo voltasse a ser como antes, mas, para minha surpresa, nada voltaria a ser como antes, e o nosso contato passou a se tornar frequente, como de uma família que se encontra todos os dias. Isso mesmo. Lembro-me de estar em seu consultório todos os dias até estar convicta de que eu estava bem.
Os anos se passaram e foi criado algo além de uma relação entre médico e paciente, pelo menos em meu conceito, eu poderia chamar de relação entre amigos ou, por que não, entre família.
Nesses 18 anos de convivência, criou-se um vínculo de respeito, atenção e amizade, pois a sra. foi além do seu papel de médica quando, muitas vezes, nos tirou daquele ambiente hospitalar ou quando em um simples abraço ou em um belo sorriso dizia, em meio a um momento difícil, que iríamos lutar juntas até tudo ficar bem e era isso o que acontecia.
Deus selecionou muito bem a pessoa que iria cuidar de mim, foi através deste cuidado que hoje, 18 anos depois, eu pude estar aqui fazendo esta homenagem em agradecimento por todos esses anos de convivência, posso dizer que valeu à pena fazer parte desta história, uma história cheia de lutas, sim, mas com grandes conquistas, pois aquela que, há 18 anos, chegou em seu consultório sem muita expectativa, hoje está aqui cheia de sonhos realizados, cursando o 5º período do curso de Direito e cheia de sonhos, que, se Deus quiser, ainda se realizarão. E Deus não poderia ter me dado uma oportunidade melhor de te agradecer por ter sido a minha médica por todos esses anos e por toda a dedicação que teve em cuidar de mim, e aproveitar pra dizer o quanto é especial na minha vida.
Luciene Baessa